domingo, 29 de julho de 2012

Seleção Adversa

Em microeconomia, existe um problema tratado como "Seleção Adversa". Este problema ocorre devido aos agentes econômicos terem custos para obterem informação, o que faz com que as escolhas ótimas acabem sendo distorcidas.

O exemplo clássico utilizado para explicar de forma mais palatável seria o do mercado de seguro de automóveis. Supondo que todos nós conhecêssemos nosso risco de sofrer acidente, mas as seguradoras não. Se as seguradoras cotassem o preço do seguro pela média de probabilidade de acidente da população, somente indivíduos altamente propensos a danos iriam contratar o seguro, pois, para os indivíduos menos propensos, o seguro não compensaria.

"Beleza, papo nerd... onde você pretende chegar, Santa?"

Eu acho este o problema mais belo de todo estudo econômico, ele é basicamente aplicável a todas as situações de relação interpessoal que vivenciamos.

Podemos falar disso para relações amorosas, ou outras relações sociais simples, quando você se mostra o mais interessante possível...


Você quer ser contratado, você acaba demonstrando o melhor de si, tanto tecnicamente, quanto socialmente... "Ah, meu maior problema é que eu sou muito perfeccionista, gosto de fazer tudo bonitinho até nos detalhes..."!! Meu, na boa, vai à merda, por favor! ('Por favor' porque sempre precisamos ser educados!).

Nenhum perfeccionista fala disso como defeito, em primeiro lugar... Mas óbvio que o entrevistador tem que ficar quieto e fingir que esta é a primeira vez que ele ouve aquilo...

Daí, você acaba contratado... quem lhe contratou logo perceberá todas as mentiras que você falou na entrevista, e você perderá credibilidade... Nice! Well done! Good job, my friend!

O problema da seleção adversa sempre acaba quando os agentes econômicos acabam ganhando conhecimento sobre os outros.

Quem realmente é o que é? Hum... pergunta difícil...

Quando somos quem realmente somos, acabamos parecendo mais ríspidos, porque não buscamos fingir pensar o que não pensamos... Não esconder o que se pensa pode acabar saindo grosseiro na maior parte dos círculos que frequentamos.

Como equilibrar o ato de ser sincero quando se compete com pessoas que têm conhecimento de que não ser honesto é a estratégia ótima para conquistar algo?

Entraríamos em outra parte da microeconomia, a Teoria dos Jogos, e logo perceberíamos que o equilíbrio perfeito seria também não ser honesto...

Nice!

Então as pessoas são todas falsas?!

Novamente, não dá para ser falso todo o tempo... mas algumas acostumam-se demais em usar uma máscara... e isso é da natureza humana... afinal, é mais fácil ser aceito socialmente ao utilizá-la...

Como culpar algo que é praticamente imposto pela sociedade... a falsidade?

"Mas, Santa!, você não falou que este problema acaba quando os agentes se conhecem?!"

Yep...

"Então, por que você diz que as pessoas continuam a utilizar de máscaras para fingir algo que elas não são!? Não faz sentido!!"

Yep... Mas, voltemos ao início deste tópico... "Este problema ocorre devido aos agentes econômicos terem custos para obterem informação"...


É muito custoso você realmente conhecer alguém... as pessoas têm todos os incentivos para se mostrarem melhor do que são quando lhes é conveniente!


Um amigo meu outrora me disse, 'não existe amizade, existem relações de interesse!'... E, muito embora eu discorde e acredite que seja uma afirmação muito forte para ser generalizada, acredito que ele estivesse pensando muito neste problema quando falou isso...


Quanto maior o interesse da pessoa em nós, mais distante do "ser natural" dela ela pode estar...

Novamente, isto é algo 'naturalmente imposto'... nós fazemos da sociedade assim, e nós questionamos as pessoas por serem assim... quão hipócritas somos, não?

"Ok! e onde você quer chegar?"...

Quero chegar no ponto de tentar aceitar mais este problema... tanto na vida pessoal, quanto na profissional...

Analisemos o caso de uma firma que pague altos salários... ela vai atrair todo tipo de profissional, irá contratar bons profissionais e maus profissionais, mas o custo que ela terá para esta contratação será muito alto, e não saberá se vai compensar este investimento inicial...

Analisemos o caso de uma firma que pague baixos salários... ela pode vir a atrair todo tipo de profissional, mas só os profissionais menos qualificados desejarão permanecer na firma... e ela estará fadada à estagnação...

Obviamente, nestes dois exemplos, estou pensando unicamente na estratégia dos salários... existe toda uma gama de outros benefícios por trás dos salários que devem ser estudados para se entender o incentivo dos empregados em manterem-se em seus empregos... tal como a 'utilidade' deles em estarem fazendo o que gostam, plano de carreira, e etc..

Quando estamos numa baladinha, tendemos a escolher o rosto mais bonito... ao iniciarmos um approach, começamos a descobrir mais da pessoa... Se a pessoa for interessante, investimos mais... senão, caímos fora!

Novamente, pensando em uma estratégia particular... quando estamos lá por estar, e sabemos que nunca mais pretendemos encontrar com aquele rostinho bonito, o tamanho da porta que estamos lidando não interessa tanto.

E é neste ponto que eu acredito ser meu maior arrependimento de ter feito Ciências Econômicas... talvez se eu não pensasse assim eu fosse ser tão mais feliz e simplesmente iria viver a vida...

"A ignorância é uma bênção!" (Cypher, 1999).

Mas... mas... mas... Mas talvez não... pensar assim também nos impele a ver com outros olhos as nossas verdadeiras relações de amizade, a apreciá-las mais!

Quando eu sei que posso ser eu mesmo, naturalmente chato e implicante, que a pessoa se divertirá o mesmo tanto comigo, e eu com ela... é esta a amizade que eu mais aprecio...

Tenho poucos grandes amigos, alguns bons amigos... e outros tantos amigos que eu sei quão mais eu eu posso ser... meus grandes amigos são aqueles que eu tendo a não esconder muito do que penso, sou mais sincero... meus bons amigos, falo um pouco menos do que se passa nesta cabecinha... meus outros tantos amigos me fazem ser mais reservado...

Óbvio que tento trazer todos ao nível de meus grandes amigos, para ser eu mesmo a todo tempo, e com isso acabo arranhando algumas boas amizades, mas faz parte de um processo de aprendizagem, cujo objetivo final, para mim, sempre vale a pena...

Existem tantas pessoas que não gostam de mim sem me conhecer pelo meu jeito de ser... mas as poucas que existem que gostam de mim por me conhecer me fazem muito mais feliz do que se eu tivesse milhares de amigos... ou 'amigos', melhor expressando-me...

Admirável amigos antigos... amigos novos... amigos! Pouco falo sobre vocês, mas muito vocês impactam e minha vida... não sou a pessoa mais capaz em tecer elogios, ou fazer agradecimentos... sou do tipo mais crítico, aquele que gosta de ressaltar os detalhes... mas obrigado por fazerem do meu dia mais feliz... mesmo quando minha sinceridade lhes acerta de um jeitinho não muito amigável!

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